Especialistas reafirmam que lockdown no Brasil é medida urgente para barrar o descontrole da pandemia


Enquanto o governo Bolsonaro segue afirmando que “não vai ter lockdown”, mesmo diante do completo descontrole da pandemia no Brasil e escalada de mortes, é cada vez maior o coro de especialistas e instituições sanitárias que aponta que a medida é a única forma de deter a disseminação da Covid-19.

A Fiocruz voltou a afirmar nesta semana que o Brasil precisa adotar imediatamente um lockdown nacional por, pelo menos, duas semanas, para deter a escalada da pandemia no país. Segundo a instituição, só a restrição total na circulação de pessoas pode interromper a disseminação da Covid-19.

O Boletim Extraordinário do Observatório Covid-19 Fiocruz alerta que o mês de abril pode ser pior que março, o mês mais fatal desde o início pandemia, que teve mais de 66 mil óbitos registrados.

Esta semana, ultrapassamos a marca de 345 mil óbitos e foi registrado mais um recorde macabro de mortes diárias, com 4.211 vidas perdidas nesta quinta-feira (8). Atualmente um em cada três mortos pela doença no mundo é brasileiro (a).

O levantamento da Fiocruz mostra que o vírus Sars-CoV-2 e suas variantes permanecem em circulação intensa em todo o país. Segundo os pesquisadores, foi observado ainda um novo aumento da taxa de letalidade, de 3,3% para 4,2%. Este indicador se encontrava em torno de 2,0% no final de 2020.

Os pesquisadores da Fiocruz avaliam que esse crescimento pode ser consequência da falta de capacidade de se diagnosticar, correta e oportunamente, os casos graves, somado à sobrecarga dos hospitais.

Outros especialistas

A mesma posição vem sendo expressada por diversos especialistas nos últimos dias. O infectologista norte-americano Anthony Fauci, responsável pela força-tarefa dos EUA contra a Covid, em entrevista à BBC News, disse que “não há dúvida de que medidas severas de saúde pública, incluindo lockdowns, têm se mostrado muito bem-sucedidas em diminuir a expansão dos casos” e que o Brasil precisa avaliar a medida.

“Você não precisa fazer um lockdown sem prazo pra acabar, mas, se restringir a circulação e garantir que todos usem máscara, você não terá pessoas se reunindo em ambientes fechados como em restaurantes e bares, e isso diminui o número de casos”, disse.

O médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e um dos fundadores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que por várias vezes já defendeu a medida, concordou com o especialista norte-americano. “Tenho plena concordância com o doutor Fauci, ele está correto ao propor que este momento, enquanto nós esperamos as vacinas, é um momento precioso que nós não podemos perder de vista. Temos que conseguir fazer o possível para que as medidas de afastamento e isolamento social ocorram para diminuir o número de casos, nós temos um número explosivo de casos e esse número terá consequências terríveis”, avalia o sanitarista em entrevista à agência de notícias Sputnik Brasil, que alerta ainda que em até três meses o país pode alcançar o número de 500 mil mortos.

O médico epidemiologista César Victora, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), também emitiu a mesma opinião, lembrando que o fechamento rígido gerou resultados positivos em outros países.

Conselho Nacional de Saúde vai ao STF por lockdown

Entidades de saúde, que compõe o Conselho Nacional de Saúde (CNS), recorreram ao STF (Supremo Tribunal Federal) para que um lockdown nacional por 21 dias ainda este mês, acompanhado por auxílio emergencial “adequado para a população”, seja decretado pelo governo Bolsonaro.

As entidades ajuizaram uma ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) em que alegam a inação do governo federal “em adotar as medidas restritivas necessárias ao enfrentamento da crise sanitária”, atribuindo a esse fato “a escalada do número de mortes em todo o território nacional e ao completo colapso do sistema de saúde”.

Com informações da CSP-Conlutas (Central Sindical e Popular).

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