Comunicado público da Direção Colegiada do Sepe Lagos


Dirigimos a todo o povo trabalhador de Cabo Frio e, particularmente aos trabalhadores negros e negras, as seguintes informações.

Na última segunda-feira, publicamos uma grave denúncia sobre a postura criminosa do secretário de educação de Cabo Frio, o professor Flávio Guimarães. Neste que é o pior momento da pandemia, em que praticamente todos os municípios da baixada litorânea estão classificados na “bandeira roxa”, atingindo o mais alto grau de risco de contágio pela Covid-19, o referido agente do governo de José Bonifácio (PDT) achou pertinente impor cortes salariais contra os trabalhadores da educação que estão em Greve Pela Vida.

Trata-se de uma greve que não é motivada apenas pelo drama recorrente de atrasos salariais ou pela frequente negação de direitos adquiridos pela categoria, que sempre afligiram os educadores do município (e ainda afligem, como fica evidente com o não pagamento dos salários dos aposentados e pensionistas). Mas, uma greve que, diante de uma das maiores crises de saúde pública que a humanidade já enfrentou em sua história recente, luta por condições adequadas de segurança sanitária. E, para isso, interrompe apenas o trabalho presencial, mantendo as atividades laborais executadas de maneira remota.

Condições estas que só serão alcançadas quando o município cessar sua omissão genocida e adotar protocolos sanitários que sejam amplamente discutidos com a categoria e com as comunidades escolares. Que levem em conta de maneira séria e coerente o que tem sido elaborado pela comunidade científica e não sirvam, simplesmente, para se fazer o “teatro da higiene”, como dizem os especialistas ao classificarem medidas insuficientes para a garantia da biossegurança dos locais de trabalho. Protocolos que proíbam o trabalho presencial em momentos como o atual, em que a pandemia está completamente fora de controle, com o sistema de saúde pública saturado, com pessoas morrendo em filas por leitos de UTI ou em função da escassez de cilindros de oxigênio. Com uma taxa astronômica de contágios e mortes pelo coronavírus e num contexto em que há meses não se avança de maneira significativa na vacinação da população. Em um cenário em que os governos de todas as esferas não implementam políticas públicas sérias para proporcionar o necessário isolamento físico dos cidadãos e, dessa forma, reduzir a curva de contágios.

O secretário Flávio Guimarães, leal às determinações de José Bonifácio, tem ignorado sistematicamente as reivindicações sanitárias do Sepe Lagos e se recusa a discutir a sério as condições de trabalho às quais os educadores estão sendo submetidos. A prefeitura não fornece EPIs adequados aos trabalhadores das escolas. Até o momento, não fez investimentos substanciais em obras de reparos e adaptações da precária infraestrutura das unidades de ensino. Tampouco o governo permite que sejam elaborados protocolos sanitários que realmente proporcionem segurança e confiança aos profissionais da educação para o exercício de suas atividades laborais.

Tudo isso que estamos relatando deveria gerar revolta. Deveria levar aos trabalhadores em geral a cobrar deste governo medidas para que se dê fim a esta omissão, que vários movimentos e organismos internacionais têm classificado como prática genocida dos governos e autoridades brasileiras. Nos últimos meses já perdemos muitos companheiros de trabalho e de luta. A mais recente vítima dessa política criminosa, que empurra os trabalhadores a ter que escolher entre morrer de fome ou de Covid-19, foi uma companheira secretária escolar da rede municipal de Cabo Frio que trabalhava na Escola Municipal Prof.ª Elza Maria Santa Rosa Bernardo, no bairro Jardim Esperança.

Neste contexto, o Sepe Lagos publicou uma denúncia contra a iniciativa repressora e antissindical de Flávio Guimarães de cortar os salários dos trabalhadores da educação que estão em greve para não morrerem. O texto explicita a traição que as ações do secretário significam, considerando que ele é um professor que já esteve “do lado de cá da trincheira”. 

Flávio já fez greves, já participou de eleições sindicais, de protestos da categoria, sabe o que é sentir na pele a exploração e a negação de direitos por parte dos governos. Aliás, reivindicou a trajetória de professor, sindicalizado e participante de movimentos sociais, ao assumir a secretaria, como forma de tentar se legitimar junto aos trabalhadores da educação.

Porém, hoje, em troca dos privilégios que o posto de secretário municipal de educação lhe confere, Flávio se coloca a serviço da perseguição, da repressão, do amedrontamento e da punição econômico-financeira contra trabalhadores que estão em luta, não para defender os seus direitos políticos, sociais e trabalhistas — o que já seriam motivos mais que legítimos — mas para defender a sua própria existência física, a sua vida.

Foi neste contexto, depois de inúmeras tentativas sem sucesso de pautar a segurança e a vida dos trabalhadores da educação em reuniões com o secretário, de denunciar que a Secretaria de Educação estava escondendo da sociedade de Cabo Frio os surtos de Covid-19 que estavam acontecendo nas escolas da Rede Municipal de Ensino e de condenar a sua conduta de traidor da categoria dos profissionais da educação, que o Sepe Lagos o comparou, numa metáfora, com a alegoria histórica de um “capitão do mato”. 

Aos trabalhadores negros e negras que se sentiram ofendidos por esta comparação, pedimos sinceras desculpas.  Não foi esta a intenção do sindicato, que é um aliado estratégico de toda a classe trabalhadora em sua luta contra a opressão racista e a exploração capitalista. Sabendo inclusive, que é um grave equívoco associar esses personagens exclusivamente ao fenótipo do negro, já que brancos e mestiços também cumpriram esse papel repressor, vastamente comprovado pela historiografia crítica. Por isso, nos surpreendeu a associação feita nas redes sociais, como uma caracterização racista e não política de um repressor.

Depois de ler e ouvir democrática e humildemente todo o debate apresentado, entendemos que diante da polêmica há ativistas honestos, que defendem o direito dos trabalhadores da educação de resistir aos ataques da Prefeitura e do secretário Flávio Guimarães, que nos fizeram críticas sobre a comparação feita. E reconhecemos que, neste caso, tiveram razão em fazê-las. 

No entanto repudiamos e denunciamos a instrumentalização da pauta racial por políticos oportunistas, agentes governamentais e burocratas sindicais e sem escrúpulos, que usam da luta antirracista, que este sindicato sempre travou e continuará travando para se arvorarem como únicos defensores do povo negro ou para falsamente “denunciar” suposta índole racista da direção do sindicato e ofuscar a gravíssima denúncia que estamos fazendo.

Recordamos aos companheiros negros e negras que o Sepe Lagos é o sindicato da Região dos Lagos mais ativo politicamente nas lutas antirracistas e de outros setores oprimidos da classe trabalhadora. Não como “apoio externo” a essas lutas, mas como um sindicato construído a partir do ativismo direto de mulheres, negros, LGBTQIs, indígenas e outras minorias sociais que compõem tanto a base como a direção dessa entidade. Estamos presentes em todas as lutas em defesa das pautas do movimento negro, como se verificou nos protestos contra o genocídio do povo negro realizados no ano passado (ver nota aqui: https://bit.ly/3sEMCn1), nos atos recentes do 8 de março em Búzios e em Cabo Frio (ver aqui: https://bit.ly/31AE9oZ e aqui: https://bit.ly/39rObgy) e nas demais ações de conscientização e luta contra o racismo, como o dia 20 de novembro (ver aqui: https://bit.ly/3m6HRjD) e o dia 25 de julho (ver aqui: https://bit.ly/39viSBv). E isso se dá por que levamos a sério a luta contra o racismo e o combate às ideologias opressoras no seio de nossa categoria, mesmo quando amplas parcelas dos trabalhadores, lastimavelmente, são ganhos por ideologias que perpetuam as relações de opressão que dividem a classe trabalhadora e potencializam a dominação da burguesia e dos seus governos.

Novamente, pedimos desculpas aos trabalhadores negros e negras que entenderam a associação apresentada no documento como indevida. Mas não damos nenhum passo atrás em nossa denúncia contra o traidor Flávio Guimarães. Denúncias que merecem receber o apoio de todos os que corretamente criticaram nossa publicação. A discussão central e grave denunciada não pode ser esquecida!

Por fim, exigimos que o diretório do Partido dos Trabalhadores (PT) de Cabo Frio, ao qual o secretário Flávio Guimarães é formalmente filiado, tenha a dignidade de se posicionar publicamente em defesa dos trabalhadores da educação e repudiar de maneira veemente os descontos salariais impostos pelo secretário e pela prefeitura contra os trabalhadores que o partido diz defender. Traidores e perpetradores de práticas antissindicais como Flávio Guimarães, que se colocam a serviço de reprimir, ameaçar e punir trabalhadores em greve, não deveriam ser aceitos em partidos que se dizem defensores das causas da classe trabalhadora e do povo pobre.

Não queremos e nem vamos esperar mais mortes!

#GrevePelaVida
#VidasNegrasImportam
#EscolasFechadasVidasPreservadas
#NãoAoGenocidio

Postar um comentário

0 Comentários